Deve o vinho ser
bebido entre os 3 ou 4 anos seguintes ao seu ano?
De facto, ainda
ninguém me conseguiu dar uma explicação para este facto. Porque é que os
franceses continuam a abrir garrafas Château Margaux da década de 60 como se de
relíquias se tratasse e para outros vinhos não.
Claro que os vinhos
que se podem guardar para envelhecimento são os reconhecidamente bons. Ou seja,
aqueles vinhos de posicionamento mais alto. Mas quais? Mas em Portugal quando
temos um vinho de 2005 a resposta é "já está estragado", "isso
já não presta", a não ser que sejam as Barca Velhas ou outros do estilo.
Será que é mesmo assim? Não sempre!
Há uns tempos atrás
disseram-me que para guardar era melhor ser reserva. Cá está, reserva é um
vinho melhor que os outros, regra geral. Mas claro que não existe uma explicação
cabal sobre o que se pode guardar e o que não se pode. Vi outro dia uma garrafa de Barca Velha à
venda já muito antiga, não me recordo o ano exacto, mas deveria ter há vontade
mais de 50 anos. Estava visivelmente alterada pois o vinho já estava abaixo do
gargalo. Mesmo assim à venda por uns milhares de euros.
O ponto que quero
expressar nem tem a ver com o facto de se guardar ou não guardar o vinho ou
este ser bebido ou não nos 3 ou 4 anos sequentes ao seu engarrafamento. Parece
que afinal o vinho reconhecidamente como valioso pode ser guardado. Mas e o
outro? Também pode, digo-vos eu. Outro dia abri uma garrafa com 17 anos o Gricha
Churchill’s, era simplesmente uma garrafa de vinho do Douro, sem ser reserva ou
grande reserva. Estava absolutamente fantástico. Abri também ontem uma garrafa
de Duas Quintas de 2006, soberbo. Acontece que nenhum destes dois era reserva
ou tinha qualquer outro atributo que pudesse prever a sua boa conservação. Num
a rolha estava ligeiramente à superfície com bolor, como disse ligeiramente o
que me fez crer que o podia não estar bom, mas o resto da folha estava
perfeito, praticamente 99% da rolha. Foi uma feliz experiência e uma
curiosidade ainda maior sobre esta questão de envelhecimento do vinho.
Agora,
inequivocamente, existem condições para guardar o vinho para ser bebido anos
depois. Essas condições têm a ver com a temperatura e com a luminosidade. Por
isso as garrafeiras são frias e escuras. Fornecendo a capacidade de conservação
necessária. Nisto temos de ser rigorosos. Não se pode guardar vinho em pé, com
excesso de luz ou calor.
O beber vinho antigo confere
uma áurea romântica ao momento. Beber um vinho velho transporta-nos para aquele
ano e dá-nos a ideia de estarmos a partilhar algo que ficou longe mas que está
ao nosso alcance. Beber um vinho do nosso ano de nascimento, da data do nosso
primeiro amor ou do nascimento do nosso primeiro filho, dá-nos a experiência
das memórias da nossa vida. Para além disso um vinho e acima de tudo
envelhecido conseguiu mais aromas e uma textura suave que não conseguimos com
um vinho jovem, pode ser uma experiência absolutamente maravilhosa.
Dizem que apenas 1% da
produção mundial está capaz de ir para envelhecimento. Por essa razão mais
memorável é beber um vinho antigo que está em condições para ser bebido. Mas
será mesmo assim? Apenas 1%?
O vinho envelhecido
guarda ou não mais atributos? Ou seja, o vinho pode ganhar melhores
características com os anos ou não? Mas nunca o saberemos se não o guardamos e
bebermos anos depois.
Boas experiências!
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