Avançar para o conteúdo principal

Icewine Pilliteri Cabernet Franc 2004



Muitos de vocês sabem o que é Icewine, mas hoje escrevo para os que não sabem e faço nota de prova do Pilliteri Cabernet Franc 2004.

A natureza tem um efeito incontornável em qualquer produção de vinho. Se pensarmos que o clima, as contingências de exposição dos terrenos ou de eventos não esperados, sabemos que não conseguimos controlar a natureza e felizmente esta é uma das situações mais enigmáticas da produção de vinho e talvez aquela que nos dá sempre uma sensação de redescoberta nas mesmas marcas ao longo dos anos. No Icewine sente-se o poder da natureza e consegue-nos proporcionar uma experiência única e um momento de deleite. Não é comparável.

Como introdução do Icewine julgo que vale a pena perceber a origem e a produção. Este vinho pertence à categoria dos vinhos sobremesa, é uma espécie de néctar, com um sabor intenso de fruta e delicioso, asseguro-vos.

Não existe uma definição exacta para sabermos qual a origem deste vinho, sendo que se acredita que o primeiro produtor possa ter sido a Alemanha, no entanto o grande produtor neste momento e talvez o mais evoluído será o Canadá. Este que provámos era do Canadá.

O extraordinário deste vinho doce é que é feito a partir das uvas congeladas, concentra em si um elevado nível de açúcar, pois o mosto leva a uma fermentação muito mais lenta do que o normal. Pode levar meses para completar a sua fermentação (em comparação com dias ou semanas para os vinhos regulares). Por causa do menor rendimento dos mostos das uvas e da dificuldade de processamento, os Icewine são significativamente mais caros do que os outros vinhos e geralmente são vendidos em garrafas mais pequenas, desde garrafas de 50 ml até 350 ml.  
São precisos meses desde a colheita da uva até ao engarrafamento. Nos meses frios as uvas vão murchar e congelar nas videiras, concentrando os açúcares, os ácidos e as essências frutadas. É o toque da natureza e do gelo que vai determinar a qualidade do Icewine. As uvas são colhidas numa temperatura de 7 ou 8º negativos, em condições adversas. Como referi, são precisas mais uvas para fazer um determinado volume de Icewine do que o normal dos vinhos e o tempo de espera prolongado das uvas nos terrenos deixa-as susceptíveis a serem comidas por aves ou mesmo expostas a certas doenças, ao mofo, à chuva e ao vento que podem arruinar uma produção completa. E é por isso que é o vinho mais caro do mundo. A produção do Icewine é um jogo contra a mãe natureza, que muitas vezes resulta em rendimentos baixos de produção, e às vezes inexistentes, lutando contra congelamento e sono, quem apanha estas uvas entra numa corrida contra o tempo. Só pela produção este vinho já é notável e digno de uma prova.

Icewine é doce, como outros vinhos de sobremesa, mas as uvas usadas para fazer isso geralmente não estão infectadas com a podridão nobre. Podridão nobre é causada pelo fungo botrytis cinerea, e o sabor que confere ao vinho é uma parte fundamental de alguns famosos vinhos de sobremesa, no Icewine não entra.

As castas do Icewine podem ser muitas, aliás podemos encontrar à venda Icewine de Riesling, Gewürztraminer, Vidal, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon e outras. Este que provei era canadiano com a casta Cabernet Franc. Esta é uma casta leve e suave, de médio corpo e muitas vezes apresenta características vegetais, tem um aroma de frutas tropicais e especiarias.

O sabor deste Icewine Pilliteri Cabernet Franc 2004 é uma espécie de perfume para o palato, leve, com um sabor de pêssego, damasco e mel, foi uma notável e excelente experiência, recomendo num bom almoço entre amigos, uma boa gargalhada e histórias de vinho.

Apenas para finalizar, julgo que não existe nenhum produtor em Portugal de Icewine.
Nota: 8.7 (0-10)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Segredos de S. Miguel Reserva 2013

Deixo-vos aqui outro vinho da  Herdade de S. Miguel . Já tínhamos provado o Herdade de São  Miguel Branco, com excelente nota. Desta feita o Segredos de S. Miguel Reserva Tinto 2013. A Herdade de S. Miguel, deste vinho, está situada no concelho do Redondo, no Alentejo. Apresenta-nos nesta marca o Branco, Tinto, Rosé e Reserva Tinto.  O Segredos de S. Miguel Reserva 2013 é um vinho Reserva Tinto reconhecido mundialmente, uma vez que foi distinguido no concurso mundial de vinho 2014 com uma medalha de prata. As castas seleccionadas para o Segredos de S. Miguel Reserva 2013 foram Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Franca e Touriga Nacional. É um vinho com uma cor rubi densa, o aroma é frutado e muito bem estruturado. Na boca no início percebe-se a madeira e baunilha, tem notas de especiarias e de chocolate no final. O final é prolongado e muito suave. Nota: 8.1 (0-10)

O vinho é de todos

Já poucos são os que se deixam intimidar pelas críticas, considerações ou gostos e tendências marcadas pelos escanções ou sommeliers sobre o vinho. Cada vez mais o vinho está a popularizar-se na curiosidade, na experiência e na procura de conhecimento. Muitos são aqueles e aquelas que querem estar no mundo do vinho, fazendo disso a celebração da vida, sem que isso seja uma profissão ou um oráculo a que só uns têm acesso, arriscando compras arrojadas e experimentando vinhos pelas castas, pelas regiões, experimentando sem que isso seja condicionado pelo que vêem ou lêem. Para a popularidade do vinho contribui a crescente oferta com maior informação e maior acesso. Contribui certamente uma oferta diversificada e sustentada com maior acesso à informação e imagens mais trabalhadas do vinho. Mas sobretudo a qualidade dos vinhos. Os produtores estão cada vez mais activos no processo de criação de um vinho e proximidade com o consumidor, são construtores de marcas sólidas com histórias

Clarete 2006 Quinta do Monte d'Oiro

Tudo à volta do vinho tem uma imensa e longa história para contar. O vinho começa há tantos séculos atrás que o património é gigante e sobretudo com uma evolução que me deixa quase sempre vários dias a descobrir os infinitos detalhes de um assunto que até parece pequeno. Há uns anos atrás descobri o clarete, com a marca Clarete 2006, Quinta do Monte D’Oiro do produtor José Bento dos Santos. Absolutamente imperdível. Primeiro porque esta é uma nova classificação, pouco conhecida e surpreendente. Surpreendente porque é qualquer coisa entre o vinho tinto e o vinho rosé, com uma leveza no aroma e no sabor únicas. Depois porque o vinho é absolutamente divinal. A sua produção foi bem conseguida, respeitou os aspectos primordiais da essência do clarete. Muitos de vocês não saberão que existe este tipo de vinho chamado Clarete. O clarete   é uma especialidade de Bordeaux era um vinho que há vários séculos atrás era muito exportando para o Reino Unido. Isto na Idade Média. O termo or